Por uma questão óbvia, o Estado não torna público o grande numero de mortes e sequelas deixadas por abortos clandestinos, mas sabe-se que é um problema de saúde pública.

Rui de Albuquerque*

“Quem não tiver nenhum pecado que atire a primeira pedra” Esta citação bíblica raramente é levada em consideração quando o assunto é aborto. Não o aborto previsto em lei, mas aquele que a mulher, por uma razão ou outra, não deseja ter um filho. Se for feita uma enquete pública para saber o que o povão pensa a respeito do assunto, certamente o grosso da população vai dizer que é contra a interrupção da gravidez. Hipocrisia ou medo de retaliações?

Desde que eu me entendo como gente, e isso faz um tempinho, já vi dezenas de casos de mulheres que foram até a maternidade local para fazer curetagem* após abortarem. A maioria teve o objetivo alcançado, outras se tornaram estéreo e algumas morreram. É bom lembrar que o procedimento era feito em casa ou em locais conhecidos na época como “fabricas de anjinhos”

O quadro não foi alterado. Muitos abortos continuam sendo praticados em condições sanitárias um pouco menos inseguras, mas não por isso menos perigoso. É um caso de saúde publica. Apesar disso, as autoridades fazem vista grossa. Os parlamentares fogem do debate para evitar atritos com a ala conservadora do país e com as igrejas e com isso perderem votos.

O Estado

Se o Estado brasileiro tivesse e fosse eficaz na aplicação de políticas publicas especificas para a questão do aborto, seria de se esperar que um filho não planejado e abandonado teria a tutela oficial. Basta dar uma olhada em qualquer rua deste país pra ver que isso não acontece.

As ruas são o centro de aprendizagem de tudo que uma criança não deveria aprender. É dessas ruas espalhadas por todos os cantos do Brasil que saem os jovens de “amanhã”.

*Curetagem é um procedimento médico utilizado para a raspagem da cavidade uterina. Normalmente, é realizado para retirar os restos placentários de um aborto. Também pode ser usado para diagnóstico, quando o tecido é retirado para análise das causas de um sangramento no endométrio, por exemplo.

* Rui de Albuquerque é bacharel em Comunicação Social pela UFBA.
Folha da Terra Jornal

0 Comentários

Comente