Esperar um bebê nestes tempos oferece um desafio: o de manter a serenidade diante de informações desencontradas sobre covid-19 e gravidez. Se a gestante passar por essa prova, estará pronta para a primeira febre, o primeiro tombo, o primeiro dia de aula — estará pronta para tudo! Brinco, só para reconhecer que não é fácil.

 

Gerar uma criança sempre coloca o organismo feminino em um estado que merece o adjetivo de interessante, tamanho o rebuliço interno e o rearranjo anatômico. Tudo se altera e sai do lugar para o objetivo número 1 dessa jornada de nove meses, que é deixar que a criança venha ao mundo.

Há mudanças que tornam as mulheres nessa fase verdadeiras fortalezas. Outras as deixam mais vulneráveis. Sempre foi assim, muito antes de o Sars-CoV 2 ter arrancado a graça de quase tudo. Mas qual seria o caso aqui? Será que as grávidas seriam realmente mais frágeis diante desse coronavírus famigerado?

Conversei com dois médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, que se complementaram nas explicações. Rômulo Negrini, além de coordenar a obstetrícia da instituição, é um baita especialista em gravidez de alto risco. Já o infectologista Fernando Gatti é o coordenador do controle de infecção do hospital e, portanto, estuda a ameaça de alguém pegar Covid, como poucos. Assim, eles cercaram as principais dúvidas de todos nós.

Gravidez não é doença, mas…

Tem razão: grávidas não são doentes. Mas podem adoecer. Quando esperam um bebê, as mulheres se tornam mais vulneráveis a infecções e todo cuidado no sentido de preveni-las sempre valeu a pena desde que o mundo é mundo, muito antes de ele virar de pernas para o ar.

As defesas baixam um pouco a bola. “Existe um corpo diferente se desenvolvendo dentro do organismo. E essa é a estratégia para que elas o aceitem, sem atacar as células do bebê como fariam com algo estranho”, explica o obstetra Rômulo Negrini.

O que fica mais reduzida é a chamada imunidade celular, capitaneada pelos linfócitos T. Eles procuram destruir células que, digamos, exibem sinais estranhos — como seriam as da criança e como aquelas que, por azar, estão infectadas por vírus. Logo, em tese as grávidas seriam mais sujeitas especialmente a viroses — e, mais ainda, frágeis diante viroses respiratórias. Tanto que são prioridade na vacinação da gripe.

“Na medida em que o útero cresce, ele vai pressionando o diafragma, o músculo envolvido na respiração, e assim a gente também nota uma diminuição da reserva respiratória”, justifica o infectologista Fernando Gatti. Em outras palavras, cai a capacidade dos pulmões. Portanto, eles já não são os mesmos, se tiverem de aturar um agente infeccioso.

Tudo isso junto se traduz, em tese, em uma maior vulnerabilidade, se a gestante pegar uma infecção respiratória, como é a covid-19. Mas não significa que a mulher esperando bebê pega covid-19 com maior facilidade, que são outros quinhentos.”Os dados que temos até o momento não mostram uma prevalência da infecção maior em grávidas”, deixa claro o doutor Negrini.

Aliás, também é bom esclarecer que não há estudo apontando que as novas cepas do Sars-Cov 2 seriam mais perigosas para gestantes. Disso ninguém sabe. “O que sabemos é que são mais transmissíveis”, diz o doutor Gatti. “E, se estamos vendo mais casos em mulheres jovens, entre elas as grávidas, talvez seja porque esse grupo se expôs mais, participando de confraternizações, por exemplo.”

 

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