Muitas mulheres relatam terem sido vítimas de gordofobia nos apps de relacionamento. Alguns fatores se destacam em todos os depoimentos das mulheres entrevistadas: no perfil, elas expõem claramente –por meio de fotos ou por escrito– que são gordas. Fazem isso para tentar filtrar e fazer com que se aproxime apenas quem estiver de fato interessado em alguém com o perfil delas. Outro ponto em que foram unânimes: elas não veem problema nas pessoas não quererem se relacionar com determinado biotipo. A questão são os comentários inconvenientes, desnecessários e ofensivos.

Deu match

“Já passei por vários casos de gordofobia. Tinha uma foto minha de rosto, quando nem sabia mexer direito em aplicativo de relacionamento. No dia que encontrei o menino com quem conversava, ele me olhou de cima a baixo e disse que eu era diferente, que achou que eu fosse magra, porque o meu rosto era fino. Em outra ocasião, conversei três semanas com um cara, superfofo. Ele veio me buscar e não saiu da minha rua com o carro, dizendo que só queria conversar comigo. E quando eu o questionei a respeito disso, ele falou que pensou que eu era magra e que só me pegaria, mas não me assumiria para ninguém. Essas situações me magoaram porque foi numa época em que não me aceitava. Atualmente, estou bem comigo mesma. Se acontecesse algo assim hoje não me importaria. Homem não falta!” Pamela Ramalho Floriani, 26, manicure.

“Nunca publiquei foto alterada”

“Já teve casos de perguntas gordofóbicas, tipo ‘você tem uma foto de corpo, porque você parece gorda’ ou questionando meu peso e altura. É como se não interessasse se eu sou legal. Uma vez, saí com um menino que me disse que eu parecia bem mais magra nas fotos. Fui embora porque tenho amor próprio. A questão é que sou uma pessoa, não sou obrigada a postar uma foto de biquíni. Eu não devo isso a eles! Nunca usei fotos alteradas de alguma forma, não tenho problema algum com isso. Ser gorda, para mim, é apenas uma característica física, como ser baixa, alta ou magra”. Ana Carolina Alvarez, 22, ilustradora.

“Já me deram like só para me atacar depois” .

“Alguns matches eram feitos somente para me atingir. Eles davam like e logo em seguida já vinha algum comentário babaca falando sobre meu peso e corpo. Fui criando uma resistência e já deixava na bio bem declarado que eu era gorda, mas isso só trazia os sexistas e novamente eu era vista como um objeto, em vez de um ser humano. Acredito que isso tenha ligação direta com a autoestima pois eu ficava extremamente triste, sendo que nem conhecia esses caras. Comecei a postar fotos de corpo que considero lindas e os likes diminuíram, felizmente, junto com os gordofóbicos. Hoje, tenho mais maturidade e, graças à militância da aceitação, vejo isso com outros olhos. Mas na época foi bem triste e difícil, era como se fosse o fim do mundo”. Natália Pássaro Rodrigues de Souza, 23, turismóloga

“Pensam que tenho baixa autoestima por não ter corpo padrão”.

“Antigamente eu entrava em aplicativo de relacionamento com a mentalidade de ter algo sério. Hoje, converso, conheço pessoas, mas nada com um interesse mais profundo, porque me sinto extremamente discriminada. Às vezes, sinto necessidade de entrar num padrão para ter um relacionamento sério, mas aí percebo o quanto querer me padronizar para encontrar alguém é errado da minha parte, aí mudei isso na minha cabeça e me conscientizei que se alguém gostar de mim, terá que me aceitar do jeito que eu sou. Só que a maioria das pessoas que dão match têm no pensamento ‘ah, ela é gorda, tem baixa autoestima, vou ganhar a confiança dela e magoá-la’. Vejo que muitos homens têm essa mentalidade, que, por não termos o corpo padrão, não temos autoestima”. Tainara Ferreira de Jesus , 27 anos, secretária.

“Um cara me perguntou: por que toda gorda se acha?”.

“Uma vez um rapaz curtiu meu perfil e enviou “oi” várias vezes, mas eu não curti o que ele escreveu na descrição dele, o que fez com que eu não me interessasse. Um tempo depois, ele mandou uma mensagem questionando ‘por que toda gorda se acha?’. Isso aconteceu recentemente, em uma fase que eu gosto muito de mim, por isso não me abalei. Já tive boas experiências, mas hoje não uso mais aplicativos de relacionamento”. Cínthia Cristina Abreu, 28 anos, escrevente.

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