Eu preciso, eu mereço, a vendedora precisa atingir a meta dela… Pode até parecer exagero, mas existem pessoas que justificam o consumo em excesso dessa forma. E isso vale para comprar qualquer coisa. De roupas e sapatos a produtos de papelaria, joias e até um carro. As desculpas são uma parte que ajuda a sustentar algo muito sério. A compra compulsiva afeta tanto as pessoas que já é caracterizada como doença. É a oneomania.

“O ato de comprar em excesso, geralmente, está ligado a alguma emoção. Então, a pessoa passa a adquirir bens porque está feliz ou porque está triste ou porque está ansiosa e isso vai se tornando algo repetitivo, até que ela perde o controle. É um remedinho emocional”, explica a psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do tratamento de compras compulsivas do Instituto de Psiquiatria, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Mas quando o consumo vira doença?

Só o fato de comprar não quer dizer que uma pessoa seja onemaníaca e precise de tratamento. O problema começa a existir quando as compras se tornam uma dependência. “Tal como uma dependência química, mas essa é comportamental”, explica a psicóloga. Então, as compras começam a fazer parte do pensamento a todo o momento. E isso acaba interferindo no dia a dia e até no relacionamento com familiares e amigos.

A pessoa esconde o que compra para que o parceiro ou a parceira não descubra. Compra pela internet e aí joga fora a caixa na lixeira do prédio antes que alguém veja. “Ela tem consciência, mas não quer ser julgada. Sabe que é consumista, mas assumir é complicado”, explica a administradora executiva Natália Cunha, especialista em Psicologia Econômica, de São Paulo (SP). E, claro, fica endividada. Embora esse não seja um fator determinante no diagnóstico, os médicos detectam que 99% das pessoas com transtorno compulsivo sofrem com a conta no vermelho e os cartões de crédito estourados.

Ambos os sexos são afetados na mesma proporção, mas as mulheres são a maioria nos tratamentos especializados. Isso porque elas querem resolver a questão que as afeta e que acaba desestruturando toda a família. “Ela procura tratamento já com o casamento abalado, querendo salvar a relação. Ele, quando procura, conta com o apoio da mulher”, conta Tatiana.

Sinais de alerta.

 

É muito comum uma pessoa demorar até 20 anos para procurar ajuda. Os primeiros sinais da oneomania podem começar a aparecer assim que a pessoa ganha algum tipo de independência financeira, seja por meio do salário, uma mesada dos pais ou até uma herança e se estende até os 30 ou 40 anos quando ela aceita que precisa se tratar. “Hoje temos um contexto social que estimula o consumo. Então a pessoa vai comprando, comprando e não percebe que está passando dos limites”, explica Tatiana.

Alguns sinais podem ajudar a saber se está na hora de procurar ajuda. Veja: – Desequilíbrio financeiro: a pessoa se envolve em dívidas e chega até à falência.

– Desajuste interpessoal com família e amigos: começam a surgir brigas por causa das compras em excesso. E a pessoa passa a mentir para esconder tudo o que adquiriu. –

Demissão do emprego: a situação fica tão grave que afeta a produtividade profissional.

– Aquisição de empréstimos: para saldar uma dívida, a pessoa pega um empréstimo. E depois precisa de outro para saldar o anterior. Ou ainda pega dinheiro emprestado num valor superior à dívida que tem, só para usar a sobra para adquirir mais bens. O tratamento é longo – entre 18 e 24 meses – e envolve apoio psiquiátrico, terapia psicológica e orientação financeira.

 

 

 

 

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