Ao não identificarem o membro da família real, o casal colocou todos sob suspeita.
A entrevista de Harry e Meghan à apresentadora Oprah Winfrey causou mal-estar em Londres. Na conversa de 90 minutos, que foi transmitida pela CBS, na noite de domingo, madrugada de ontem no Reino Unido, o casal acusa a realeza de racismo. Os ataques, aos quais o Palácio de Buckingham costuma reagir com discrição, aumentaram a pressão por uma resposta para evitar um impacto ainda mais devastador para a monarquia britânica.
Na conversa com Oprah, o príncipe Harry reforçou as acusações de Meghan sobre a existência de racismo na família real. Ele confirmou que sua família havia manifestado preocupação com o tom de pele do filho, Archie, antes de seu nascimento. Meghan é filha de Doria Ragland, uma ex-maquiadora negra, e Thomas Markle, um iluminador de TV branco.
“Houve várias preocupações e conversas sobre o quão escura seria a pele dele (Archie) quando nascesse”, afirmou a duquesa. “O quê?”, respondeu a atônita apresentadora, após segundos de silêncio.
A preocupação com a cor da pele de Archie, segundo Meghan, foi um comentário feito a Harry, e ela ficou sabendo depois. O príncipe confirmou, mas nenhum dos dois revelou quem manifestou a preocupação. “Isso seria muito prejudicial para eles”, respondeu Meghan, após Oprah insistir em saber quem fez o comentário. “Essa conversa eu nunca vou compartilhar”, disse Harry.
Ao não identificarem o membro da família real, o casal colocou todos sob suspeita. Ontem, Oprah veio a público esclarecer que questionou Harry, diante das câmeras e fora delas. O príncipe, segundo a apresentadora, lhe garantiu que não havia sido nem a rainha Elizabeth II nem seu marido, o príncipe Philip, mas não deu mais detalhes.
Meghan sugeriu que a cor da pele de Archie havia sido determinante para ele perder o título de príncipe. Segundo o protocolo existente, como neto de um soberano, Archie se tornaria automaticamente príncipe quando seu avô, Charles, ascendesse ao trono. O casal, porém, foi informado que as regras seriam alteradas para “enxugar a monarquia”.
O racismo foi, segundo Harry, um dos principais motivos para o casal deixar o Reino Unido. Embora o país não seja racista, disse o príncipe, a imprensa, e mais especificamente os tabloides, são. No entanto, a acusação de racismo foi apenas uma das várias declarações incendiárias da entrevista.
Meghan afirmou ainda que não recebeu ajuda durante um momento de crise, quando teve pensamentos suicidas durante a gravidez de Archie. Ela descreveu uma história muito parecida com a da mãe de Harry, a princesa Diana, que sofreu assédio da imprensa e não teve ajuda da família real. “Minha maior preocupação era a história se repetir”, afirmou o príncipe.
Harry também revelou que não tinha a intenção de deixar completamente as funções da realeza, mas apenas dar um “tempo”. No entanto, imediatamente após a decisão, a família real cortou seu dinheiro, incluindo o reservado à segurança. “Eu nasci nesta posição. Eu herdei o risco”, disse. “Eu tenho o que minha mãe me deixou e, sem isso, não teríamos sido capazes de fazer isso.”
Reações
Os efeitos da entrevista foram devastadores. O líder trabalhista, Keir Starmer, disse que as questões raciais e de saúde mental levantadas por Meghan eram “maiores do que a família real” e não deveriam ser ignoradas. A deputada Kate Green disse que as alegações eram “angustiantes e chocantes” e pediu ao Palácio de Buckingham que investigue as acusações.
Já o primeiro-ministro, Boris Johnson, fugiu da polêmica. Questionado se a família real deveria investigar as acusações, ele apenas elogiou a rainha. “Sempre tive a maior admiração pela rainha e pelo papel unificador que ela desempenha em nosso país”, afirmou. “Quanto a todos os outros assuntos relacionados à família real, passei muito tempo sem comentar, e não pretendo começar agora.”
A CBS informou ontem que 17,1 milhões de americanos viram a entrevista, duas vezes mais do que o pico do horário nobre de domingo. Foi a maior audiência do último ano, perdendo apenas para o Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano, que atrai cerca de 100 milhões de americanos todos os anos para a frente da TV. (Com agências internacionais)
Fonte: Correio 24h com informações do jornal O Estado de S. Paulo.