Depois de ter lido uma das crônicas do genial Luís Verissimo, me safei de um sufoco danado.
Rui de Albuquerque
A leitura abre a cabeça da gente! Ao abrirmos um livro é como se cada página fosse um passaporte universal que nos faz voar além dos limites da nossa mente, da nossa imaginação. Será que a bela princesa vai realmente me beijar para que eu me livre de tamanha feiura que me persegue por tanto tempo? Num momento de sordidez na minha viagem no mundo de Branca de Neve será que não me passa pela cabeça que ela não seduzia diariamente os seus seis amiguinhos anões? O sétimo, na minha jornada, era avesso a carinhos femininos.
Numa de tantas excursões ao mundo mágico dos livros, me deparei com um dos maravilhosos personagens do cronista gaúcho Luís Fernando Verissimo. Incorporei aquele coroa que estava na fila do banco – não tínhamos ainda Pix, nem serviços bancários no line – logo atrás de uma morenaça com aquela bunda que tira qualquer um do sério. Por um instante, aquele cidadão da última idade se entusiasmou e ao perceber que tinha caído um documento qualquer da bolsa da gostosa, quis ser gentil e assim iniciar o papo.
Prontamente, abaixou-se e tentou pegar o papel que havia caído da bolsa da donzela. Foi ai que se lembrou da recomendação médica, mas já era tarde demais. Ficou entrevado no chão até que a coluna velha voltasse ao lugar. Como faço do grupo dos sexagenários, a cena do velhote ficou na minha cabeça, mas jamais imaginei que quase passaria por tamanho vexame.
E aconteceu! Costumava ir todas as tardes lá na Panificação Central para me empanturrar com aqueles pasteizinhos fritos na hora que só Fecinho sabe fazer. Ao chegar naquele banquinho perto do balcão, viu aquela morena verissidiana sentada. Ela tava usando uma calça que na minha época a gente chamava de saint- tropez, mostrando parte da calcinha em forma de V.
Como a moça do caixa do banco, a gostosa deixou cair algo que logo identifiquei como um celular. Pensei em bancar um coroa prestativo e ter um motivo para iniciar a conversa. Hesitei, hesitei, mas logo me lembrei da crônica do filho de Érico Verissimo e sem me mover cochichei no ouvido dela: “Moça, seu celular caiu no chão”. E continuei a me deliciar com os pasteizinhos.