Pode parecer inverossímil, mas é verdade que espertalhões vendiam a formula para que os “queimadinhos do sol” ficassem brancos.
Rui de Albuquerque*
Mesmo com o avanço dos movimentos contra o racismo em quase toda parte do mundo, é visível que a batalha está muito longe de ser vencida. A falta de medidas drásticas contra racistas e a hipocrisia de muitos ainda imperam. A luta que transcende a discriminação por si só não está no cidadão que pratica o ato. Está no estigma cultural que a negrada carrega desde quando nasce e é “ educado “ pelos pais negros.
Na Bahia, estado mais negro do mundo, além da África, seria de bom alvitre (vixe !) se o combate as desigualdade sociais fosse um bandeira natural da negrada. Historicamente não é assim que funciona. A batalha não é assumir a pele negra. É ascender socialmente como forma de se livrar a sua origem afro. É o famigerado processo de embranquecimento. Assim que o cidadão de cor consegue, a duras penas, um bom emprego que lhe permita financiar um carro e um apartamento em um bairro não periférico tudo muda.
Os amigos são outros. Inteiramente fora de questão tomar um litrão no Jardim Cruzeiro ou no Mangalô. Subaúma deixa de ser a praia das farras homéricas com cerveja barata e vinho Capelinha. O fim de semana naquele resort com tudo “ incluvive “ com os novos amigos brancos é IN. Para quem tem consciência histórica, o que mais assusta é ver o “novo branco “ empunhar a bandeira de quem sempre foi racista, misógino e outras coisas mais.
Há relatos históricos de alguém que ganhou muito dinheiro vendendo elixir do embranquecimento. Se nos dias atuais, o produto fosse colocado à venda na Bahia, o estoque se esgotaria muito antes do término da Black Friday.
• Rui de Albuquerque é um jornalista baiano formado pela Universidade Federal da Bahia