Acredito profundamente, que Adrião Filho não escreve, ele faz alquimia com
as palavras. Fico abismado com a capacidade que ele possui, de através da escrita,
exalar em um mesmo texto, sentimentos tão antagônicos, tão díspares, como amor
e dor, medo e coragem, ir e ficar, presença e melancolia. Se bem que fico na dúvida
se ao invés de antagônicos, não seriam esses, sentimentos imbrincados, feito
irmãos siameses. Essa profusão de sensações nos toma de assalto, ao ler Adrião, e
o seu novo rebento, “Lirôu Rex: O Tiranossaurozinho”!
Lirôu Rex, mesmo sem perceber, nos rememora, que o curso da vida, muito
se assemelha com a alternância fixa entre momentos identificáveis como verdadeiro
rio caudaloso, contrapondo-se a outros momentos de calmaria que encontramos em
baías protegidas por fortificações rochosas, que impedem o fulgor da força do mar,
desbocar com toda a sua fúria e violência sobre a praia.
Desavisados creditarão a história como infanto-juvenil, e, embora o seja de
fato, os olhos mais atentos perceberão a profundidade existencial que envelopa a
narrativa, através dos olhos e bocas de personagens tão primorosos, tão resilientes
como estes criados por Adrião.
Às vezes me confundo quem é a criança e quem é o adulto da história, se o
Vovô ou se Redemoinho (àquele em carne e osso), e não por dúvidas acerca do
estágio do desenvolvimento intelectual de ambos, mas sim, pela qualidade das
características que residem em cada uma dessas fases da vida e que permeiam
ambos os personagens em momentos distintos da narrativa.
Os diálogos, primorosos, como diria Caetano, “mora na filosofia”, à exemplo
de quando o Vovô de Redemoinho filosofa, que “a tristeza é carvão da alegria”, em
resposta ao relato do neto, que “mesmo sem entender, perceber ou compreender”,
havia chorado.
Ao ler “Lirôu Rex: O Tiranossaurozinho”, Adrião nos eleva à nonagésima
potência da empatia, nos alumia com o acalanto do seu texto, da sua palavra, do
trocadilho das palavras e da permanência destas com seus muitos significados e
outros ressignificados, porque a gente aprende, às vezes à duras penas, que “amar
ser amado” e “respeitar ser respeitado”, é o caminho para encontrarmos ou
reencontrarmos a “potência viva de ancestralidade”.
Voilà, Adrião Filho!

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