Para este artigo, visando o expansionismo do campo dialógico e acreditando que a promoção de uma educação comprometida com a formação de cidadãos cobra um posicionamento estratégico do professor dentro do circulo decisório dos projetos educacionais do nosso ensino público, nós dialogamos por telefone com a professora aposentada Marizelia. (Foto utilizada a nível ilustrativo)

Adrião Filho*

A voz que corre o aparelho telefônico traz a segurança de quem dedicou 30 anos e 4 meses de vida ao crível ofício de educador no sistema de ensino público brasileiro (no colégio Polivalente), tendo ingressado neste por meio de concurso público. Licenciada em História e dominando a metodologia da alfabetização, chegou a educar senhoras com mais de 60 anos de idade.

Ditando o ritmo da conversa com o colunista que vos escreve, afirmou de imediato que “a experiência de vida é a melhor escola. (…) E a educação é o maior investimento que o homem pode fazer”. Por conseguinte, um sistema educacional público de qualidade “é a melhor coisa que o poder público pode fornecer ao homem”.

É clarividente em sua postura de fala que é através da escola que o Estado engendrará a formação de um corpo social composto por indivíduos autônomos, pois, como ela nos explica, “a educação nos liberta nos capacitando a pensar, analisar, questionar e solucionar”. Assim sendo, ela “impulsiona o ser humano, tornando-o mais solidário e participativo, a se comprometer através do agir transformador”.

Nesta altura do bate-papo, eis que o tom de voz da professora se agrava e ela exclama que não foram poucas as deficiências enfrentadas ao logo de sua carreira.  Assim sendo, trouxe à luz que em sua época de atuação “faltava conscientização da classe docente quanto ao seu papel no processo educacional, fato que provocava um prejuízo ao trabalho conjunto, ou seja, à própria educação”, sinalizou ainda que havia “pouca integração da família com a escola e que os projetos de integração iam ficando soltos pelo caminho”.

Além disto, chamou atenção para dois fatos alarmantes: primeiro, a falta de material era agravada, para sermos educados, por fatos bizarros – leia-se, por exemplo, situação em que televisores para o curso de novas tecnologias ficaram guardados por quase 5 anos por falta de recursos para instalação; segundo fato, viu muitos “gestores públicos mais fieis às forças políticas que ao agir transformador”.

Dentro deste contexto reflexivo, sabendo que a sabedoria popular nos ensina que é preciso conhecer a própria história para não repetir os equívocos do passado, questiona-se: dadas deficiências enfrentadas pela professora Marizelia fazem parte do ontem ou de um passado, infelizmente, ainda presente?

Enfim, o caminho do educador é laborioso. Posto isto, Marizelia sublinha que a missão de educar deve se delimitar através da tônica da Parceria. Frise-se o ‘P’ maiúsculo, pois a professora afirma que “sem o dialogo permanente entre professores, pais, alunos e poder público, a educação vai continuar entravada” e a escola pública não vai “voltar a ser respeitada como formadora de pessoas conscientes de seu papel como agentes transformadores”.

*Adrião Filho é poeta, Bacharel em Direito pela Universidade Salvador e Mestre em Ciência Sociais pela Escola de Estudos Avançados em Ciência Sociais de Paris.

 

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