Danúbia de Holanda
Dançar faz bem, isso talvez todo mundo saiba. Um importante estudo publicado em 2003, por exemplo, já mostrou que a atividade está associada a um menor risco de demência. Mas você sabia que mexer o esqueleto também funciona como prática terapêutica?
Essa junção da dança com psicologia é chamada de dançaterapia. São encontros de cerca de uma hora nos quais os participantes são convidados a se expressar por meio da dança. Não há passos ou coreografias. As pessoas se movimentam livremente com base em estímulos táteis (tecidos, tapetes, toalhas) e por meio do som (músicas de gêneros variados, sons da natureza ou até mesmo barulho da rua).
Os estímulos ajudam a pessoa a contar uma história da sua forma; ele improvisa, respeitando suas possibilidades. Os materiais e os elementos presentes nos sons, como ritmo, melodia e harmonia, facilitam na expressão corporal, na socialização, mobilização, comunicação e autoconhecimento que ocorre durante a prática da dança.
Quais os benefícios?
A dançaterapia é uma técnica criada pela dançarina alemã Mary Starks. Na América Latina, quem propagou a prática foi a bailarina e coreógrafa argentina Maria Fux, que inclusive deu cursos em várias cidades brasileiras até implantar um centro de formação em Brasília.
Aluno desse curso, o coreógrafo e dançaterapeuta italiano Pio Campo é um dos responsáveis pelas formações e divulgação do método. De acordo com ele, durante toda sua carreira de 30 anos nunca viu alguém sair dos encontros de dançaterapia do mesmo jeito que entrou. “Entramos com um estado emocional ou físico e saímos sempre de uma forma diferente”, diz
Embora não sigam nenhum ritual, de acordo com Daniela Gatti, pesquisadora e professora na área da dança contemporânea no Departamento de Artes Corporais do Instituto de Artes na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o condutor da prática reconhece as características do movimento para ter uma consciência do que está sendo executado. Ele percebe, por exemplo, se o movimento está sendo executado de forma suave, densa, abrupta e quais as direções estão sendo seguidas.
A ideia é que o participante tenha conhecimento do próprio corpo e de suas sensações. Como conecta corpo e mente, a dançaterapia acaba trazendo benefícios para esses dois campos. No corpo, ela ajuda na coordenação motora, postura, otimiza a flexibilidade, desenvolve habilidades psicomotoras nas crianças, melhora o equilíbrio e a condição muscular e articular.
Já na saúde mental, a dançaterapia proporciona benefícios terapêuticos como combate ao estresse, equilíbrio da mente, liberação de tensões, melhora na autoestima, incentiva a harmonia, ajuda na socialização, lucidez mental.
De acordo com Myrian Sales, psicóloga do Hospital Oswaldo Cruz de Pernambuco, durante a dança o corpo libera neurotransmissores ligados à sensação de bem-estar, prazer e motivação como a dopamina, endorfina, ocitocina e serotonina. Além dos hormônios, o sistema cardiovascular é ativado, aumentando o fluxo sanguíneo e favorecendo uma respiração correta.
Por fornecer reações físicas e psíquicas, a dançaterapia é uma aliada ao tratamento de inúmeras doenças como a depressão, esquizofrenia, ansiedade, algumas fobias, Parkinson, estresse pós-traumático, deficiências físicas e ajuda pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Dançaterapia para todas as idades
Dançar é uma expressão de comunicação do corpo com a mente que pode ser praticada em qualquer fase da vida. Durante a gestação, pode auxiliar no bem-estar da mãe e do bebê. A dança ajuda na liberação de hormônios que reduzem tensões na gravidez. Além disso, ela estreita os vínculos entre a mãe e o bebê, ajuda na circulação sanguínea e na oxigenação da gestante.
Nas crianças, a Dançaterapia apresenta benefícios relacionados à motricidade e aprendizagem, pois estimula a coordenação motora, a criatividade e ajuda no desenvolvimento de empatia, facilitando a socialização.
Nos adultos é possível perceber mudanças como o crescimento pessoal e melhora no aspecto emocional e na autoestima. Para idosos, a dançaterapia funciona como um carregador de energias, renova a autoestima, ativa a memória e trabalha a rigidez corporal, evitando quedas.