O capitão/presidente mais do que nunca tem consciência de que o apoio militar é imprescindível para a sua permanência no cargo. O aparelhamento do Estado com a nomeação de militares para cargos civis é exacerbado, sem falar no aumento de soldo que tem efeito cascata.

Rui de Albuquerque*

Boa parte dos governos latino americanos tem o aval das forças militares. São raros os países em que os homens de farda fazem isso apenas por uma questão ideológica ou pela preservação do estado democrático vigente, quando existe. A ordem do dia é a troca de favores entre as forças armadas e os políticos que dirigem as nações. Nada de ilegal, mas peca pelo excesso de privilégios.

O típico exemplo é a Venezuela. Apesar da pressão e embargos americanos, o ditador maduro permanece no poder graças ao suporte dos aliados militares. Em meio à pior crise política e econômica na história recente do país, todos os olhos estão voltados para o Exército, visto como o principal vetor de poder no país – que presenciou três tentativas de golpe nos últimos 25 anos.

Embora a Constituição venezuelana exija que as Forças Armadas permaneçam apolíticas, cerca de um terço do gabinete do presidente Maduro é ou foi do Exercito. Eles, os militares, tem funções diversas na gestão do sucessor de Hugo Chaves. Vão desde aquelas estratégicas até as de importância mínima. O fundamental é o aparelhamento do Estado.

No Brasil, toda a semelhança entre o que ocorre lá do que ocorre aqui não é mera coincidência. As pesquisas indicam que o capitão/presidente está seguindo a regra ao pé da letra, apesar de execrar publicamente o presidente Maduro. É do conhecimento público o quanto Messias tem privilegiado seus companheiros de farda com aumento de soldo e de ofertas de cargos civis na esfera federal.

O que deixa a opinião pública com a cabeça em parafuso é a discrepância entre o que as Forças Armadas pregam como sua função – de zelar pelo Estado – e o que o capitão/presidente evacua todo momento nas suas redes sociais: “Meu exército, blá, blá, blá…” Demite, mente, fala mal, ameaça ou interpela judicialmente a todos que não diz amém ao seu discurso mirabolante.

*Rui de Albuquerque é editor do Folha da Terra. É formado em Comunicação Social pela Universidade Federal da Bahia.

 

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