Um novo estudo publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology revela que mulheres grávidas que desenvolveram anticorpos contra o novo coronavírus podem transmitir essas proteínas de defesa para seus filhos. As descobertas sugerem que a imunidade adquirida pela vacina também é capaz de ser transferida, e proteger tanto a mãe quanto o recém-nascido.

 

Durante as pesquisas, foram analisadas amostras de sangue de 88 mulheres que deram à luz no NewYork-Presbyterian, hospital filiado ao Weill Cornell Medicine, entre os meses de março e maio do último ano, quando a cidade de Nova York era o epicentro global da pandemia. Todas apresentaram anticorpos contra o Sars-CoV-2, o que mostra que elas haviam contraído o vírus, ainda que não tenham desenvolvido sintomas.

Em 78% das crianças nascidas, foi possível identificar anticorpos no sangue do cordão umbilical, indicando que eles atravessaram a placenta — órgão responsável pela troca de nutrientes e gases entre a mãe e o bebê — durante a gravidez, e chegaram até a corrente sanguínea do feto. Não há indícios de que as crianças tenham sido infectadas pelo vírus, e todas testaram negativo para covid-19 após o parto.

Os cientistas também constataram que a concentração das proteínas de defesa era consideravelmente maior entre as pacientes sintomáticas, que representavam 42% do total. Esse padrão corresponde ao encontrado na população em geral, confirmando a hipótese de que gestantes possuem uma resposta imune semelhante à das outras pessoas, o que ainda não havia se confirmado, uma vez que o sistema imunológico das mulheres tende a passar por mudanças durante a gravidez.

Além disso, mães com níveis mais altos de anticorpos tinham maiores chances de transmiti-los à criança, ou seja, filhos de mulheres que tiveram sintomas da covid-19 apresentavam mais anticorpos em comparação aos recém-nascidos de mães assintomáticas.

“As gestantes e seus bebês representam dois grupos vulneráveis, com um sistema imunológico interdependente, que é altamente suscetível a doenças infecciosas”, explica o estudo. Um relatório de outubro de 2020 do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos indica que grávidas sintomáticas para covid-19 possuem maiores chances de serem admitidas em UTIs e submetidas a intubação e oxigenação por membrana extracorpórea, além de maior risco de morte.

Existem casos de transmissão do Sars-CoV-2 através da placenta e de recém-nascidos com sintomas de covid-19 cujas mães haviam testado positivo para a doença. Por outro lado, as novas descobertas sugerem que os anticorpos produzidos através do estímulo da vacina também são capazes de atravessar o órgão, protegendo tanto a mãe quanto a criança.

“Agora que podemos dizer que os anticorpos contra covid-19 produzidos pelas gestantes podem ser passados aos seus bebês, nós suspeitamos que há uma grande chance de que elas também podem passar os anticorpos que o organismo produz quando é vacinado”, diz Yawei Jenny Yang, uma das autoras do estudo. Ainda não se sabe, no entanto, a proteção exata que esses anticorpos podem dar à criança, e por quanto tempo eles conseguem agir.

“A pergunta de um milhão de dólares”, questiona Laura Riley, pesquisadora envolvida no estudo, “é se as mulheres que estão sendo vacinadas agora terão o mesmo tipo de proteção [quando engravidarem]. Nós não sabemos isso ainda, e ter essas respostas é bastante importante”.

Riley, Yang e uma equipe de cientistas estão dando seguimento a pesquisas envolvendo gestantes que foram vacinadas, assim como mães já imunizadas que estão amamentando. O objetivo é avaliar a resposta imune desses grupos após receber a vacina e auxiliar na elaboração de estratégias de imunização daqui para frente.

 

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