“O poder emana do povo”. Eis mais uma balela para dar às massas a impressão de um poder que jamais teve acesso. Foi assim desde a Proclamação da Republica e perdura até os dias atuais. O proletariado é o eterno marido traído: o último a saber.
O regime militar não pode ser visto apenas como um período de supressão de liberdades fundamentais do ser humano. Os principais motivos do golpe foram econômicos. Um presidente cujas propostas ameaçavam privilégios de classe precisava ser detido pela elite.
Foi o que aconteceu. A partir de então, instalou-se um regime que muitos historiadores chamam de complexo burguês-militar. Segundo estudiosos no assunto, as elites permaneceram acumulando poder à custa do povo e, após 64, passaram a ser amparadas pelos militares, cujo regime funcionava como um “cão de guarda”.
Politicamente, foram abolidos todos os instrumentos democráticos. Presidentes, governadores e prefeitos de capitais passaram a ser eleitos indiretamente. Reduziu-se drasticamente o campo de atuação do Congresso Nacional. Parlamentares que criticavam o governo tinham seu mandato cassado. Os meios de comunicação sofreram rigorosa censura.
A oposição ao regime foi forte. Para contra-atacar, foi lançado em 1968, durante a presidência de Costa e Silva, o Ato Institucional nº 5 (AI-5), instrumento legal que concedia amplos poderes ao executivo para reprimir os opositores pelos meios mais brutais. Estudantes, político e sindicalistas foram presos, torturados e mortos.
Alguns dos casos mais famosos foram os do jornalista Vladimir Herzog e do metalúrgico Manuel Fiel Filho, acusados de fazer parte do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e que foram encontrados mortos no DOI-Codi. A versão oficial é de que o jornalista e o metalúrgico haviam cometido suicídio. Os incidentes revoltaram a opinião pública. A crise instalou-se no governo e, com mais essas duas mortes, o general Ednardo D’Ávila Melo, do comando do 2º Exército, foi destituído do cargo.