Há pouco mais de um mês fora do governo, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro quer continuar fazendo parte do debate público e não nega a possibilidade de se candidatar a algum cargo nos próximos anos. Mas “não é momento” para avaliar essa possibilidade, enquanto o país enfrenta dificuldades para conter o novo coronavírus, avaliou o ex-juiz federal, em entrevista ao vivo no canal da Arko Advice, na quarta-feira (3/06).
Com ou sem pretensões eleitorais, Moro manteve uma postura política na conversa. Criticou a atuação do presidente Jair Bolsonaro, disse ter sido uma “voz da moderação” no governo e comentou os principais assuntos do país, de fake news a covid-19. Perguntado sobre a chance de ser candidato nas próximas eleições, ele disse que precisará “se reinventar”, depois de ter deixado a magistratura e a Esplanada, mas que não definiu ainda nos próximos passos.
O ex-ministro acredita que não é o melhor momento para avaliar a possibilidade de entrar de vez para a política, especialmente diante da crise do novo coronavírus. “Estamos no meio de uma pandemia. Então, não tenho sequer cabeça para pensar em perspectivas eleitorais. Não passa, no momento, pela minha mente isso”, disse. “Ainda estou, por conta da turbulência da saída, discutindo mais a turbulência do que qualquer outra coisa”, explicou.
Moro garantiu, porém, que não vai deixar de conversar com a sociedade, de uma maneira ou de outra. “O que quero é continuar participando, de alguma forma, do debate público. Acho que tenho condições de contribuir com o debate público, ainda que como espectador, comentarista. Não tem necessidade de ser um participante. Mas, como disse, não é momento de discutir essas questões”, afirmou.
Críticas
Moro classificou o governo Bolsonaro como “populista com arroubos autoritários”, mas sem intenção de acabar com a democracia. “E acho que o populismo de direita é tão ruim quanto o de esquerda. Não faz bem para o país”, acrescentou. Apesar das críticas, o ex-juiz disse não ver indícios de uma ruptura institucional ou golpe militar. “Falando francamente, pelo que vi no governo, não (há)”, afirmou.
“A minha percepção é que as Forças Armadas têm compromisso profissional muito robusto e sério com as instituições, com a democracia”, avaliou. “À vezes, a presença muito intensa de militares da reserva e da ativa pode dar uma impressão errada a respeito de alguns arroubos retóricos”, observou. “São mais blefes, mas têm seu impacto. Gera desconforto e só atrapalha”, criticou o ex-ministro.
Na visão dele, o assunto só veio à tona por conta de “arroubos retóricos que não deveriam existir” e geram instabilidade. Como exemplo, ele citou a postura do presidente em relação à pandemia do novo coronavírus. “Não adianta negar a existência da pandemia. Isso faz parte do populismo, negar a realidade. Ou interferir nas instituições de uma maneira, com todo respeito ao presidente, mas de uma maneira arbitrária. Isso não é bom, tem que ser evitado”.
Moderado
O ex-juiz aproveitou a conversa para lembrar quando saiu do time de Bolsonaro. “Realmente não tinha alternativa para ficar (no ministério) sem quebrar meus compromissos, explicou. “Fui para o governo com projeto de consolidar avanços anticorrupção e avançar em outra áreas. Fui muito criticado, mas muita gente, também, na época, gostou. Gente falava ‘que bom que você está no governo. Vai ser uma voz de moderação”, contou. “E eu me via assim dentro do governo”, admitiu.
Para ele, a “polarização extremada entre esquerda e direita” é um dos grandes problemas na política atualmente. “As pessoas têm que baixar um pouco o nível da temperatura”, acredita Moro, que chegou a ser considerado um “superministro” no início do governo. Ele aconselhou Bolsonaro a evitar os “arroubos retóricos”. “Digo isso com muito respeito ao presidente da República, que não deveria realizar (esse tipo de fala), porque é algo que gera instabilidade institucional”, comentou.
Fake news
Moro também opinou sobre a legislação atual sobre fake news, tema de um projeto de lei que tem gerado muita discussão atualmente no Senado, e lembrou que as informações falsas não prejudicam apenas políticos. Para ele, é importante haver alguma regulação. “Circulação de ideia é fundamental. Mas ideias deliberadamente falsas só prejudicam o debate e podem ser coibidas pela lei”, afirmou.
O ex-juiz ressaltou a necessidade de “cautela” para que a lei não afronte a liberdade de expressão, mas disse que é possível resolver o problema respeitando os princípios constitucionais. “Um maior controle realmente parece que é necessário. Essa questão de robôs para disseminar, criar falsa aparência de aderência a determinado discurso, isso é distorção, é fraude. Não vejo como pode ser protegido pela liberdade de expressão”, disse.
Fonte: Classe Política