Ao iniciar a vida, mesmo sem compreender os fenômenos que a envolvem, o indivíduo vê na figura materna uma segurança, que lhe remete a acolhimento e percepção de não estar só. É no nosso primeiro suspiro de vida que a figura materna nos dá a sensação de que sempre que houver uma necessidade poderemos contar com ela.
A figura materna é uma das principais responsáveis pela formação de bases fundamentais da psique do ser humano. Levando em consideração as relações as quais as mães são uma das primeiras pessoas a conviver com o indivíduo, junto com o pai, denunciamos a grande responsabilidade que ela acaba por carregar nesta função compactuada por uma expectativa de inconsciente coletivo.
O inconsciente coletivo do ser humano é formado por diversos arquétipos, que nada mais são, que conceitos básicos que regem a nossa vida em todos os âmbitos. Assim, eles são responsáveis por influenciar o modo que nós vemos e interpretamos coisas, pessoas, situações e etc, mesmo que de forma inconsciente. Assim sendo, eles influenciam nossas ações e reações.
De acordo com a psicóloga Bianca Reis, “O arquétipo é uma possibilidade pré-existente em todos nós. Ele é, em alguma instância comparado aos instintos, porém, com uma forte carga simbólica. Um exemplo de arquétipo potente em nossas vidas é o materno e, o símbolo da Grande Mãe deriva dele”.
O que acontece é que a Grande Mãe sempre repleta de características projetivas como bondade, fertilidade, proteção, apoio, cuidado, nutrição, amor incondicional impacta diretamente na ideia e relação com nossas mães pessoais (a de cada ser). Com isso, nossas mães acabam se tornando depósito dessas características projetivas e muitas idealizações.
Estas questões – inclusive – são muito valorizadas e difundidas pela sociedade: a ideia da mãe que só faz o bem para os filhos, da santa, da que se sacrifica pelos filhos, a que nunca erra.
A simbiose psíquica entre mãe e filho é um aspecto que ocorre da concepcão até cerca dos 8 meses de vida, porém não impede de ter seu fenômeno estendido pelos sujeitos envolvidos na relação. E, é nas relações, vivendo a vida, que nossos complexos vão sendo formados.
“Esses complexos são construídos porque estas mães pessoais às quais nos referimos sempre como símbolos de força, acolhimento e amor também são humanas, como todos os filhos os são. Com isso, não suprirão as expectativas primordiais que são depositadas nelas o tempo todo”, afirma a psicóloga Bianca Reis.
Cada filho vai obtendo uma vinculação e construção mutável e única com sua figura materna, há aqueles que desenvolvem, como missão de vida, a busca constante pelo reconhecimento materno. Assim como há aqueles que acabam inclusive desenvolvendo uma simbiose psíquica com a própria mãe.
Para Bleger (1967/2010), a simbiose consiste em:
“uma forma de dependência, uma relação narcísica de objeto, vinculada aos fenômenos de projeção e introjeção, na qual ocorre uma identificação projetiva cruzada, em que cada um dos depositários age em função dos papéis complementares do outro, e vice-versa”.
Existem manifestações diversas na relação de simbiose entre mãe e filho, mas, elas se convergem em uma necessidade existencial de corresponder as expectativas da Grande Mãe, envolvendo culpa e/ou gratidão e/ou submissão ligadas à ideia de débito, cobranças e sacralidade.
A psicóloga Bianca Reis alerta ainda que, o indivíduo que desenvolve simbiose com a mãe, acaba vivenciando dificuldades em alguns âmbitos da vida, como no trabalho, nos relacionamentos em geral, e principalmente consigo mesmo, já que há uma dependência da figura materna idealizada.
Sobre Bianca Reis
Psicóloga 03/11.152 do CRE-TEA, Psicoterapeuta, Palestrante e Facilitadora de Grupos. Bianca é Mestra em Família e Especialista em Psicoterapia Junguiana e atua há mais de 7 anos na área clínica, tratando de pacientes com demandas voltadas aos relacionamentos familiares e românticos, sexualidade, gênero, infância, ansiedade, depressão e outras importantes questões psicológicas e humanas.