Em crianças, o sofrimento costuma ser mais latente em fases adaptativas – após mudança de escola, separação dos pais e no luto por uma pessoa querida ou um animal de estimação, por exemplo.
E a terapia pode ser um caminho para ajudar os pequenos a lidarem com essas emoções ou tratar algum tipo de transtorno à saúde mental, que segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) afeta de 10% a 20% das crianças e adolescentes.
Como ainda não sabem nomear e entender o que sentem, a ideia é que as crianças encontrem nos psicólogos um interlocutor desses sentimentos. Mas nem sempre tratamento é efetivo ou a melhor escolha.
Assim como para adultos, o êxito depende muito do vínculo entre profissional e paciente. Porém, nos pequenos há outras questões. A psicofobia (preconceito contra quem tem transtornos mentais) de familiares e na escola, por exemplo, é um empecilho. Além de comprometer a adesão da criança à terapia, a situação agrega ainda mais sofrimento psicológico.
A seguir, mostramos quando é necessário uma criança fazer terapia e como evitar que o tratamento se torne um transtorno na vida dos pequenos.
‘Eu me sinto mais feliz lá’
Foi após a separação repentina dos pais que o pequeno Matheus*, hoje com 10 anos, começou a fazer terapia. Ele estava com 8 anos e, por causa do divórcio, teve de mudar de casa, de escola e de rotina. A sequência foi intensa. Após avaliação médica, foi diagnosticado com depressão infantil e TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade).
Para Matheus, que fez terapia em grupo, o melhor da experiência foi poder interagir com outras crianças. “Eu me sinto mais feliz lá, porque tem como brincar. Minha parte favorita é brincar com todas as crianças”, conta.
Na prática, brincar não é apenas recreativo, mas sim autoexpressão. A terapia infantil usa uma abordagem conhecida como ludoterapia, que busca interpretar como a criança se sente e se expressa por meio de brincadeiras, desenhos etc. Por isso, pode ser realizada em qualquer idade, inclusive em bebês que ainda não falam, para auxiliar no desenvolvimento dos sentidos e neuropsicomotor —cabe sempre aos pais e profissionais da saúde avaliarem e decidirem se é necessário.
Para o tratamento de transtornos em si, a ludoterapia é aliada a outras correntes difundidas da psicoterapia, como a psicanálise e a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental).
*Nome da criança foi alterado a pedido da responsável